segunda-feira, 4 de maio de 2009

Gavetas

Sinto a fronteira entre os pés no chão e o abismo de dia para dia cada vez mais estreita.
Não é fácil ficar deste lado, guardando diariamente em gavetas o que me empurra para o outro lado.
Às vezes abro apenas uma brecha, uma ligeira brecha de uma qualquer gaveta.
Mas o pavor de que expluda um dilúvio incontrolável impele-me sofregamente a fechá-la com brusquidão.
Ainda assim, uma lágrima morna e salgada escorrega lentamente pela pele.

Falta espaço para tanta gaveta.
Falta tempo para arrumar o que está lá dentro.
Falta Luz para ver com clareza, tudo o que guardam desordenadamente.
Falta coragem para as abrir a todas e deixar sair a tempestade que aprisionam.

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